A maioria dos homens vive com espontaneidade uma vida fictícia e alheia. A maioria da gente é outra gente, disse Oscar Wilde, e disse bem. Uns gastam a vida na busca de qualquer coisa que não querem; outros empregam-se na busca do que querem e lhes não serve; outros ainda, se perdem.
Mas a maioria é feliz e goza a vida sem isso valer. Em geral, o homem chora pouco, e, quando se queixa é a sua literatura. O pessimismo tem pouca viabilidade como formula democrática. Os que choram o mal do mundo são isolados – não choram senão o próprio. Um Leopardi, um Antero não tem amado ou amante? O universo é um mal. Um Vigny é mal ou pouco amado? O mundo é um cárcere. Um Chateaubriand sonha mais que o possível? A vida humana é tédio. Um Job é coberto de bolhas? A terra está coberta de bolhas. Pisam os calos do triste? Ai dos pés dos sóis e das estrelas.
Alheia a isto, e chorando só o preciso e no menos tempo que pode – quando lhe morre o filho que esquecerá pelos anos fora, salvo nos aniversários; quando perde dinheiro e chora enquanto não arranja outro, ou se não adapta ao estado de perda – a humanidade continua digerindo e amando.
A vitalidade recupera e reanima. Os mortos ficam enterrados. As perdas ficam perdidas.
_____
mais um dia 27, sozinha em casa com "500 dias com ela" e "Mademoiselle Chambon", lendo Fernando Pessoa.
felicidade em estar só.
Um comentário:
Adoro Fernando Pessoa!
E o livro do desassossego!
O nome já diz tudo !
Postar um comentário